quinta-feira, 25 de junho de 2015

Sincretismo deve Existir?



Por Marcelo N. Gomes, mais Um na Banda!

"Fio me dá um rosário pra esse nêgo trabaiá"........foi a primeira coisa que o Preto Velho José do Rosário disse ao perguntarem se ele queria algo.

Esta frase no dia me fez vibrar, era aquela sensação de iniciante quando as entidades começam a pedir suas coisas e isso faz a gente acreditar que estamos prontos, que já pode formar a fila que está tudo pronto e......e, só que o tempo passou e soube que não era bem isso, não era bem assim que as coisas funcionavam. 

Este mesmo tempo que passou também me fez entender que aquela frase tinha muito mais coisas incutidas do que apenas despertar o ego de um iniciante cheio de vontade, era puramente a pluralidade da Umbanda se fazendo presente, tomando forma num sincretismo magnífico existente desde sua anunciação. 

Esta lembrança se deu após uma conversa com meu irmão, ele assim como muitos de meus irmãos de fé, defendia uma exclusividade de orixás e imagens africanas, "Afinal, se rezamos para orixá é a imagem dele que tem que ter no congá", com estas e outras frases ele ia colocando seu ponto de vista sobre o sincretismo na Umbanda. 

Claro expus minha opinião e ponto de vista, defendendo que não, que não deveríamos banir os santos, imagens ou rezas etc, pois se assim fizéssemos o que sobraria para ser chamado de Umbanda? 

Sem as imagens e santos católicos, sem Jesus no alto do Conga, sem o Espírito Santo em forma de Pomba, sem a reza do Pai Nosso e Ave Maria, sem a oração de Cáritas, sem as ordenanças, sem o crucifixo ou melhor dizendo, sem o Rosário do Preto Velho? 

Pois é, como seria um terreiro de Umbanda sem a lembrança do catolicismo, sem nada que remetesse a algo que não fosse de origem Africana e de repente "baixa" um preto velho e diz: "Fio me dá um rosário pra esse nêgo trabáia".

Será que diríamos ao preto velho que não lhe é permitido porque a casa não permite conceitos católicos?

E se nós quiséssemos banir os Orixás ou qualquer lembrança africanista de dentro de um terreiro, o que sobraria para ser chamado de Umbanda?

E se nós quiséssemos banir as tradições de nossos ancestrais indígenas de dentro de nosso terreiro? O que sobraria para se chamar de Umbanda?

E se nós quiséssemos banir os ensinamentos e práticas Xamãs ou qualquer coisa que se relacionem? O que sobraria para ser chamado de Umbanda?

E se quiséssemos banir os conhecimentos dos chákras e toda a prática da elevação da mente e do espírito oriundos do Hinduísmo? O que sobraria para ser chamado de Umbanda?

Quando penso no Preto Velho José do Rosário só consigo ter um sentimento de gratidão, imaginar que tanta simplicidade carrega uma imensidão de sabedoria e conhecimento, afinal, de um jeito singelo mostra que a Umbanda é isso, a base é essa, o sincretismo é isto, ter a disposição elementos e conhecimento para elevar, curar e abençoar quem quer que vá buscar auxílio, sem se quer seguir uma regra de isso pode ou não pode, se isso é dessa ou aquela religião, deste ou daquele seguimento filosófico, o importante é fazer valer o que se alicerça e baseia toda a nossa religião, AMOR, CARIDADE, HUMILDADE......

Sincretismo não se dá apenas com o catolicismo mas com tantas outras religiões e digo mais, tudo que for para o bem ao próximo e que esteja de acordo com nosso fundamento e orientações de nossos guias e mestres, que se seja bem vindo!

Este é meu jeito de entender, meu jeito de sentir que a Umbanda tem que continuar como é e como sempre foi.

Gratidão

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